Costumo dizer que todos os dias me apaixono 3 vezes no metro. Isto é, obviamente, mentira pois isto não é conta certa. É assim mais uma média pois há dias muito bons e dias muito maus. Há mesmo dias daqueles em que não há nenhuma moça que me deixe com ideias menos próprias mas em compensação aí há uns meses apanhei uma excursão inteirinha de suecas e deu crédito assim para os próximos 2 anos.
No entanto este não vai ser mais um post sobre moças, os seus atributos e o funcionamento das minhas hormonas. Vou antes falar de um specimen bastante característico dos transportes públicos: a mulher proletária. A este grupo pertencem operárias fabris, mulheres de limpeza e funcionárias públicas diversas. Neste momento, e antes de lerem o resto do que vou escrever, estão a pensar "Ah, olha-me este burguês, armado em campeão". Por favor, não me chamem burguês. Campeão até é catita e bastante paternal.
Esta tribo normalmente movimenta-se em pequenos grupos e nas horas de maior movimento. Falam simultâneamente e em registos bastante agudos sobre temas como novelas, patrões, filhos, novelas, desejos sexuais reprimidos e novelas. As suas vestimentas são à base da saia assim abaixo do joelho em fazenda, e a blusa comprada numa botique no metro da Alameda. Aliás, qualquer pessoa que compre roupa em boutiques devia receber um cartão da Associação de Indivíduas Sem o Mínimo Gosto Estético, a AISMGE. Nos pés calçam os belos dos sapatos não-são-ortopédicos-mas-enganam - uma amiga minha usava sapatos ortopédicos e garanto-vos que não era coisa que abonasse a seu favor e também são pessoas susceptíveis e não deixam que pessoas como eu gozem com os seus pés. Como estou a fazer agora. Mas isso é porque tenho um fetiche por pés que não vou desenvolver num espaço tão público.
Como outra marca característica, esta gente tem quase sempre uma filha chamada Mónica, ou Kátia, ou Vanessa. Ou tudo junto. No cabelo figuram ainda as franjas estilo anos 80, á lá Samantha Fox, essa diva esquecida. Além disto moram numa periferia, tipo Amadora, Cacém, Massamá ou Talaíde.
No entanto, a grande característica destas mulheres é o belo do saquinho de plástico que levam sempre na mão. Lá dentro levam a revista Maria - para lerem tudo o que perdem por estarem casadas com o Zé Manel -, a TV 7dias - para saberem o que se passa na telenovela -, o kit tricot - veja-se lá, para fazerem ... isso mesmo, tricot - e muitas mais coisas que são ainda mais irrelevantes do que estas. Curiosamente, todos estes sacos são da sapataria Charles, porque é aí que se vendem os sapatos não-são-ortopédicos-mas-enganam que todas elas usam.
Sempre que vou no comboio ou no metro naqueles espaços com 4 lugares o meu maior medo é que apareçam 3 proletárias e decidam sentar-se ao pé de mim. Ainda no outro dia, mesmo por acaso aconteceu isso mesmo, mas felizmente 3 indivíduos de raça negra anteciparam-se às senhoras e passámos um bocado bem divertido até ao Marquês de Pombal.
Vou dormir que amanhã vou ter mais uma viagem para o trabalho e muita coisa pode acontecer.