Blogo que nem um doido!

30.9.05

O dia mais inútil desde o último

Para quem visitou o blog no dia que agora terminou e pensou que eu tinha arranjado realmente algo interessante para fazer, quissá até trabalhar, engana-se redondamente. A única razão para eu não estar aqui a fazer posts inúteis é estar a fazer algo exponencialmente mais inútil.

Por causa de porcarias que não veem aqui ao caso, passei o dia todo no hospital à espera de um familiar. Aquele tipo de coisas que um gajo até preferia estar a trabalhar. No entanto, por não ter nada para fazer, fiquei a ver os diferentes espécimens que passam por uma urgência num normal dia de trabalho.

Estava lá um perneta - se algum perneta me lê neste momento, por favor vá dar uma voltinha e não leia isto. Tinha ar de ser aqueles gajos que vieram do vietname e que não fazem a barba nem tomam banho regularmente. Além ter estado cerca de 5 horas a refilar sozinho - tal como todos os gajos tipo-vietname, é completamente passado da cabeça - , desconfio seriamente que o homem não tinha nada e que se limita a fazer aquela visita às urgências todos os dias. É sempre bom para espairecer e o sítio é bastante animado, com ambulâncias a chegar e a partir a toda a hora. Obviamente afastei-me dele e fui para a sala de espera. Estava lá a filha stressada que, posso-vos assegurar, tinha dentes a mais na boca e já não cabiam lá dentro. Estava o típico gajo com a dor no pescoço assim numa posição que parecia que estava a controlar o rabo da rapariga da fila da frente. Estava o miúdo com o braço partido e a mãe exageradamente preocupada. Estava a família de ciganos, todos vestidos de branco, que chegaram na Ford Transit branca. Estava o casal de pretos a falar com se fosse de Angola para o Senegal. E estava eu, no meio disto e de ainda pior.

Como todas a salas de espera de sítios públicos, aquilo cheira a uma mistura de éter com feijoada. Desconfio que a feijoada era do Abdul sentado ao meu lado porque além de estar a transpirar, estava com um olhar suspeito. Mas o que irrita mesmo é que se algum surto de doença super-infeccioso vai surgir em Portugal, uma sala de espera de um hospital é o melhor sítio para o apanhar. Saí da sala a ver se não apanhava a gripe das aves ou a doença das vacas loucas. Tenho seguido esta dieta à risca e vai já algum tempo que não como nenhuma vaca. Ou galinha.

Fui comer alguma coisa e comprar um jornaleco para ler. Comprei o Blitz mas como vou fazer aqui obras em casa, pedi uma revista de decoração. Só depois disso é que me apercebi do elevado grau de homossexualidade que isso dá a um gajo, principalmente quando traz ofertas "para tirar os cheirinhos de casa" e quando a revista se chama "CASA Cláudia". Segui, envergonhado, de volta para a entrada da sala de espera. Senti os olhos de reprovação dos bombeiros ao passar com a "CASA Cláudia" debaixo do braço à frente deles. Era um olhar daqueles ...

Bombeiro 1:"Oh Zé, se for preciso levar este gajo eu não levo!"
Bombeiro 2:"Porquê?"
Bombeiro 1:"O gajo lê a "CASA Cláudia"!"
Bombeiro 2:"Tens razão Tarcísio."

Mordazes à séria.

É que uma coisa é a "Caras Decoração". Ou a "Máxima Interiores". Não que alguma vez as tenha comprado, obviamente, mas "CASA Cláudia" nem sequer tem lógica no nome. Eu nem sei quem é a Cláudia, porque é que hei-de estar a ver a casa dela? O que vale é que é um bela revista e retirei algum quality time com a sua leitura.

Depois de ter voltado lá para a entrada do hospital e ter visto duas pessoas de maca que não pareciam estar a sentirem-se muito bem - estavam muito caladinhos e de olhos fechados - finalmente fui chamado para o que eles denominam de "Balcão Homens". Pensei logo que havia cerveja, porque em Portugal, em qualquer balcão que hajam homens e não seja um banco, há imperiais e tremoços. Cheguei lá e não vi nenhum balcão. Nem cerveja nem tremoços. Deixei passar e levei o meu pai dali para fora, não fossem tentar intrujar-me outra vez com truques baixos destes. Isto tudo depois de falar lá com o interno-de-ar-homossexual-que-passa-os-dias-a-ver-homens-semi-nús.


E assim foi o dia mais inútil que tive desde aquela vez em que passei um domingo inteiro a apanhar caracóis ali para os lados de Talaíde.

7 Commentários:

  • Bom de facto o ambiente nos hospitais é um bocado mau e arrepiante e nojento. :P

    Na tua descrição falta o elemento mt importante, aquelas histéricas que se poem aos gritos a dizer que tao lá à nao sei quanto tempo e q é uma vergonha e nao sei que. E depois ´lá vem o bófia por a dita cuja na rua... Mt mau mt mau.

    Sempre que vou a uma urgencia no hospital público acho que saio de lá mais doente do que o que tava quando entrei.

    By Anonymous Anónimo, at 30/9/05 14:52    

  • Pois, mas por acaso só um casal é que estava a refilar mas não lhes liguei muito. Já são banais.

    Mas esta história é verdadeira e os personagens também. E caricaturar não deu assim tanto trabalho porque aquilo já é suficientemente estranho :S

    By Blogger Ruben Badaró, at 30/9/05 14:58    

  • Antes de mais, as melhoras do familiar.

    Realmente estar em hospitais é algo tenebroso. Mesmo quando lá estás por algo feliz como o nascimento de mais um membro familiar! Tás com um sorriso na cara e de repente passa um velhote com ar de quem já deu as ultimas...

    O mesmo se passa nas consultas médicas. insisti que queria fazer um check up, agora que tenho seguro de saude, e depois de inumeros tacs, ecos, radiografias, exames ao sangue, etc, o médico que me consultou (que é um optimo médico por sinal... tem um daqueles nomes caros), disse que tava tudo bem comigo! A não ser pela sinusite crónica, a alergia ao pó de casa, um ganglio no pescoço etc etc etc.

    Resultado: Agora que está (quase) tudo bem comigo, já só vou ter de ir a mais 4 médicos de especialidades diferentes...

    By Blogger Kamala, at 30/9/05 19:53    

  • "Fui cozinho a sangue frio"?! Percebi mal com certeza...

    By Anonymous Anónimo, at 3/10/05 15:52    

  • Era cuzinho ou cozido ou cosido :P

    By Blogger Ruben Badaró, at 3/10/05 15:56    

  • Mais uma vez vou dar o meu cunho rural e do campo como contraponto à tua descrição...O hospital de Seia, ah....Bem, tenho sempre o azar de ir lá parar quando estou de férias! a última vez foi precisamente no dia dos meus anos com 40 de febre e a cara inchada- foi na altura em que me chamavam Quasimodo- sempre boas recordações dessa instituição hospitalar.
    Ressalto 2 aspectos do hospital provinciano:
    1-Podem passar 10 anos, mas sempre que estou lá, aparece a ambulância do INEM com o mesmo velho em coma alcoólico
    2- O elevado nível de excitamento hormonal das enfermeiras- todas ex colegas, NÃO amigas minhas de liceu - a vibrar com a possibilidade de engatar o novo médico recém chegado de Coimbra, solteiro, com ar tenrinho…Na verdade, eu acho que elas se sentem um bocado a fazer parte da versão rural do “serviço de urgências” em que o George Clooney é um estagiário ainda meio borbulhoso, mas que pode melhorar…Assim como a conta bancária!

    By Anonymous Anónimo, at 4/10/05 15:56    

  • Gostei imenso do blog, vou passar a visitar-te.
    se quiseres passa na minha tasca virtual.

    By Blogger Johnny Thursday, at 24/3/07 17:21    

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